Início BACANA NEWS Arraial do Pavulagem e a política paraense

Arraial do Pavulagem e a política paraense

Compartilhar
Facebook
Twitter

O Arraial do Pavulagem é um acontecimento e uma manifestação cultural legitima do povo paraense. Reúne milhares de pessoas todos os anos no mês de junho em Belém, nos famosos arrastões, que saem da escadinha do cais do porto, segue pela Presidente Vargas e vai até a Praça da República, onde artista populares, comandados por Júnior Soares e Ronaldo Silva, fazem a alegria do povo.

O arraial não recebe apoio oficial. Alias, só recebe apoio oficial no Pará quem concorda politicamente com o grupo que está no poder. É assim desde quando as três embarcações aportaram no Igarapé do Piri. O governante paraense entende que ao ser eleito pode dispor do cofre público como se fosse a própria porta cédulas. O Estado por aqui nada tem de res pública.

A política cultural oficial confunde cultura com manifestação cultural e não apoia a arte pela arte.

O boi bumbá, inspiração dos criadores desta arte, guarda a nossa relação cultural mais antiga, antes até dos portugueses, vinda dos povos tupinambás, maranhenses e paraenses, que circulavam no corredor, entre a baia de São Marcos e a baia do Guajará. Caminhando pela rota, que depois foi trilhada por Pedro Teixeira, que voltou ao Maranhão em busca de auxilio da Coroa para exterminar com os resistentes de Pacamão e de Guaimiaba e suas danças esquisitas. Cumã e Forte do Presépio testemunharam esta união.

O povo que sobrou, depois da luta desigual, embrenhou-se nas matas do Jurunas, Condor, Guamá e Terra Firme. Também foram para o Marajó, terras dos aruans, para região bragantina, dos Caetés, para o Xingu dos Jurunas, para Tembés, kaipós, Assurinis, Araras. Neste lugares, o boi bumbá resistiu, contra tudo e contra todos. Sempre atacado ou desprezados pelos governantes portugueses ou pela nossa elite “moderna”. Eles preferem as operas e os fados.

A tempos em que cultura dos pássaros e bois submerge, se transforma em ruínas como o Teatro São Cristovão. Em outros tempos, ela flutua nas mãos do povo. É resistente a 402 anos e seguirá resistindo nas ruas, nas cabanas e nos barracos das periferias, mesmo sofrendo chacinas e execuções.

Viva o Boi Pavulagem!

Zé Carlos Lima