Início ZÉ CARLOS A segurança, o esporte e a juventude em Bragança

A segurança, o esporte e a juventude em Bragança

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Foto: Arquivos de Aldo Bandeira
Foto: Arquivos de Aldo Bandeira

Dois fatos em Bragança me chamam a atenção: a quantidade de jovens que praticam esporte, notadamente o futebol de salão e o baixo índice de violência, mesmo em se tratando de uma cidade com mais de cem mil habitantes.

Um fato tem a ver com o outro? É a pergunta que me faço.

São mais de duzentos clubes, espalhados por quadras esportivas, situadas em todas os cantos da cidade de Bragança. As equipes se preparam durante meses para a disputar o grande torneio que acontece durante a semana da pátria.

Os clubes vão participando das eliminatórias, que começam ainda no primeiro semestre, até as finalíssimas, quando o “Corolão”, Ginásio Poliesportivo Dom Eliseu Maria Coroli, fica lotado de bragantinos, todos os dias da semana que antecede o dia 07 de Setembro, para assistir disputas acirradas, com grande craques, entre as equipes que galgaram as primeiras colocações, até termos um campeão.

O envolvimento dos jovens bragantinos nestes torneios, parece ocupá-los, absorvendo suas energias para a prática esportiva coletiva, de maneira positiva, criando um clima favorável a paz social por toda cidade.

Foi pensando sobre o que vi em Bragança, que lembrei-me de uma conversa que tive, ainda na década de 1990, com o famoso geógrafo Aziz Ab Saber. Fato ocorrido durante uma viagem pelo rio Amazonas.

O presidente nacional do PT, Luís Inácio Lula da Silva, havia perdido as eleições presidências em 1989, na qual foi eleito presidente, Fernando Collor de Melo, e resolveu criar um instituto para debater cidadania, pois os teóricos do PT achavam que a ausência de cidadania influenciava na baixa qualidade do voto dos cidadãos.

Os partidos aliados de Lula reuniram intelectuais e os convidaram a para percorrer o país, em caravanas, debatendo os problemas regionais, buscando apresentar soluções para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

Uma desses caravanas, chamou-se “Caravanas das Águas”. A “Caravana das Águas” saiu de Manaus a Belém, a bordo do navio Rodrigues Alves, com uma comitiva formada por estudiosos e militantes políticos. Aziz AbSaber era um destes estudiosos. Eu integrava a comitiva na condição de deputado estadual pelo Pará.

O navio parava nas cidades ribeirinhas. A comitiva descia, realizava reuniões, ouvia relatos e encontrava-se com as autoridades locais, buscando entender os dilemas dos amazonidas.

Entre uma cidade e outra, os passageiros, a bordo do navio, realizavam seminários e ouviam palestras sobre os temas, problemas suscitadas, conheciam dados sobre a próxima cidade a ser visitada.

Um dia, num final de tarde, quando nos aproximávamos da região de Monte Alegre, estava eu no convés do navio, quando o mestre Aziz se aproximou e ficamos os dois apreciando a bela paisagem amazônica. O Geógrafo passou a descrever aquela formação geológica, em riqueza de detalhes. Uma aula que nunca esqueci.

De repente, o professor e presidente da SBPC, parou de descrever os detalhes da paisagem e disse-me: “Se Lula for o presidente do Brasil algum dia, deve estimular o esporte na Amazônia, como a política pública mais importante da sua administração, para a juventude”.

Lula foi presidente por duas vezes e, infelizmente, não adotou a indicação do Cientista.

Eu, seu único pupilo presente naquela sala de aula ímpar, quis saber o porquê. Aziz, vira-se em minha direção, com a paciência dos sábios e passa a dissertar sobre sua tese: “A Amazônia está localizada na linha do Equador. O sol manda sua luz a 90 graus nesta direção do Planeta. A carga de energia que chega até as pessoas que moram por aqui, principalmente, as mais jovens, é muito forte e se estas pessoas não tiverem atividades físicas, tal como a prática de esportes coletivos, esta energia acumulada se dissipara de várias outras formas, talvez não tão benéficas.”

Ab’Saber chegou a falar em incidência de gravidez precoce e aumento nos índices de violência.

Ouvi aquela palestra individual como muita a atenção, porém nunca a esqueci.

No governo de Ana Júlia, sugeri que se estudasse o problema, e caso se chegasse a conclusão de que era positivo o que havia dito Aziz Ab’Saber, que o Governo do Estado construísse equipamentos esportivos distribuídos por todas as áreas periféricas da Região Metropolitana de Belém, em primeiro lugar.

A proposta não teve adesão dos membros do governo, com os quais conversei, e não seguiu em frente.

Durante a última campanha para o governo do estado, a equipe que debateu o programa com o qual o Partido Verde registrou minha candidatura, ouviu este meu relato e com base nele e em outros indicadores, avançou e propôs a “escola de tempo integral”, um programa com educação, cultura e esporte, para a juventude.

O envolvimento massivo dos jovens com o futebol de salão em Bragança e os efeitos positivos desta pratica, me faz voltar ao tema para sugerir que o governo do estado estudo o caso de Bragança, com base na teoria do mestre Aziz e, caso se confirme a hipótese, invista recursos para levar o esporte a toda a nossa juventude, incluindo a implantação da “escola de tempo integral”, uma proposta de grande valia para livrar os nosso jovens das garras do crime e diminuir os índices de violência no Pará.