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Quem é o dono da Caoa, grupo brasileiro a fábrica da Ford em São Bernardo, em São Paulo

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Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

Por João Sorima Neto, ÉPOCA

Foi com a própria marca Ford que começou a história do médico Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono do Grupo Caoa, no mundo automobilístico. Na década de 70, ele havia comprado um Ford Landau, mas a concessionária anunciou falência antes de entregar o veículo. Ele viu ali uma oportunidade de negócios. Comprou a concessionária e deu início ao Grupo Caoa — que leva as iniciais de seu nome —, que hoje tem mais de 170 concessionárias pelo país. Nesta terça-feira 3, ele anunciou a compra da fábrica de caminhões da Ford, em São Bernardo do Campo, que fecharia em novembro.

“A compra faz todo o sentido para a Caoa, que já é a maior distribuidora da Ford na América Latina. A Caoa já fez um negócio parecido ao comprar metade das operações da chinesa Chery no Brasil, que estava à beira do colapso, por US$ 60 milhões”, diz uma pessoa que acompanhou de perto as negociações, mas prefere não se identificar. 

Logo depois do anúncio de que a Ford deixaria o mercado de caminhões na América Latina, alegando falta de lucratividade, Oliveira Andrade foi um dos primeiros a manifestar interesse pela unidade. No Brasil, o empresário também tem relações com a marca Coreana Hyundai, além da chinesa Chery. 

Numa fábrica em Anápolis, Goiás, a Caoa fabrica o SUV Tucson e o ix35, ambos da Hyundai. Em Jacareí, em São Paulo, a Caoa é sócia da Chery numa fábrica onde são montados o Tiggo 5X e o Tiggo 7. A Caoa também é a importadora da marca japonesa Subaru e já foi revendedora da francesa Renault no Brasil, mas se desentendeu com os representantes da marca e partiu para buscar outra empreitada.

Em fevereiro passado, logo após o anúncio do fechamento da unidade e a iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, de procurar compradores para a fábrica e evitar demissões, a Caoa já havia anunciado interesse na compra. Na época, em nota, o grupo informou que tem “forte parceria” com a Ford há quatro décadas, por ser a maior distribuidora da marca na América Latina. 

“Dessa forma, é natural que a Caoa e a Ford conversem sobre futuros negócios, assim como ocorre com outras empresas sempre que há uma boa oportunidade”, dizia o comunicado.

O empresário assinou um contrato de confidencialidade para analisar a possibilidade da transação, mas as negociações emperraram porque ele queria vantagens tributárias que o governo de São Paulo não estava disposto a oferecer. Em março, o governador de São Paulo, entretanto, lançou o IncentivAuto, programa que oferece desconto no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de até 25% às montadoras que investirem mais de R$ 1 bilhão e criarem ao menos 400 postos de trabalho. O comprador da Ford poderia se beneficiar do programa, já que a unidade da Ford em São Bernardo é antiga e será necessário fazer novos investimentos na linha dos caminhões.

Mesmo com a compra da fábrica da Ford, o contrato de trabalho dos trabalhadores será encerrado e um novo documento será assinado, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Por um acordo entre o sindicato e a montadora, os funcionários da Ford têm estabilidade até novembro deste ano. Ontem, houve uma reunião entre o Grupo Caoa, e o sindicato e a Ford para discutir as condições trabalhistas para a recontratação de trabalhadores. 

“Estamos conversando com a direção da Caoa no sentido de garantir os direitos dos trabalhadores que serão contratados”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Wagner Santana.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o encerramento da produção de caminhões em São Bernardo poderia sacrificar pelo menos 27 mil empregos na cidade, entre funcionários indiretos, empregados de fornecedores e terceirizados. A fábrica empregava 2.800 pessoas, e, desse total, 750 vagas já foram fechadas quando a produção do Ford Fiesta, que também era montado na unidade, se encerrou em junho.

A Ford decidiu abandonar a produção de caminhões na América do Sul alegando prejuízos seguidos na região. Entre 2013 e 2018, a perdas teriam chegado a US$ 4,5 bilhões. Para Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em gestão da cadeia automobilística da Fundação Getulio Vargas (FGV), a montadora deixa o país num momento de recuperação do mercado de caminhões. A previsão da Fenabrave, associação que representa os revendedores, é que as vendas cheguem a quase 90 mil unidades neste ano.