Início ALEXANDRE AMARAL A minha lista.

A minha lista.

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Semana passada recebi o e-mail de um amigo que mora em Londres. Ele queria minha lista dos melhores restaurantes do mundo. Como já revelei, pra mim os melhores são os que deixam lembranças gustativas que o tempo não apaga. Não pesam na minha lista toalhas de linho, taças de cristal e os tradicionais salamaleques e rapapás de restaurantes metidos a besta. Não que não ache isso legal, mas o que vale mesmo é a comida.
Enfim, me postei frente ao computador e tentei seguir uma ordem cronológica. E a lista já ficou meio torta; lembrei da melhor mousse de chocolate que comi em toda a minha vida. Foi ali pelo comecinho dos anos 90 na estação de trem em Sintra, Portugal. Chegamos com fome e encontramos um restaurante que ficava em um vagão antigo. Não lembro da comida, mas a mousse da sobremesa era divina. E pra avacalhar logo de cara com a lista não lembro o nome do restaurante, que provavelmente já não existe mais.
Aqui já abdico da ordem cronológico e sigo por Portugal mesmo. Esqueça o premiado Arcadas que fica no Hotel Quinta das Lágrimas em Coimbra e corra pro Tia Alice em Fátima. Lá você vai comer o melhor arroz de pato da sua vida. E por um preço nada salgado. Mais ao sul no Alentejo o restaurante da Vinícola Herdade do Esporão serve uma bochecha de porco preto com risoto de cogumelos que harmoniza com qualquer pessoa que goste de comer bem. Tomara que ainda esteja no cardápio.
Esqueça o Pérgula em Roma. Ali aos pés do Vaticano tem um restaurante tão discreto que não consigo lembrar o nome. Mas que serve uma comida extraordinária por um quinto do preço. Na Itália merece um registro especial o Il Pirun, em Corniglia. De lá me vem a lembrança de uma occhiata no forno, preparada com uma simplicidade quase mágica, preservando todo o sabor daquele peixe que vi chegando fresquinho ao restaurante.
No quesito peixe não dá pra deixar de fora o Le Bernardin em Nova York. Sei que é caro, tem três estrelas Michelin, está sempre na lista dos melhores do mundo. E é tão bom quanto é caro. Vale cada suado centavo de dólar.
E já que começou a doer no bolso vamos colocar nesta lista dois brasileiros que são realmente caros. Caros e maravilhosos: Olympe do televisivo Chef Claude Troisgros, atualmente comandado pelo filho Thomas Troisgros e o Lasai do Chef Rafa Costa e Silva. Prepare-se para pratos surpreendentemente gostosos, bem preparados, servidos com perfeição.
Aqui pela América do Sul vale demais o Central, que fica em Lima e é comandado pelo Chef Virgílio Martinez. Mais do que o visual dos pratos, vale pelo sabor mesmo.
Em Bangkok fiz duas refeições memoráveis, uma no premiado Nham do Chef David Thompson, considerado o melhor restaurante da Ásia. Nem lembro o que comi. Ou seja, de especial e inesquecível mesmo só a conta recheada de zeros. Em compensação, fui levado pela nossa guia em um restaurante de bairro que tinham as mesas na garagem e quase morri. De tanto que comi. Bem e maravilhosamente!
Devo ter esquecido dezenas de restaurantes que me surpreenderam ao longo da vida, o tempo pode ter sido injusto com algumas avaliações e generoso com outras. Já descobri que lista que importa mesmo é a que fazemos pesando no futuro. O que passou não merece lista, merece apenas ser lembrado.
O londrino vai seguir aguardando a minha lista.

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